08/08/2014

"Ninguém te condenou? Nem eu te condeno. Vai e não voltes a pecar"

por Matheus Henrique

Vamos supor a seguinte situação: você acorda pela manhã e se olha no espelho. Qual a sua primeira sensação? Como você está? Com a face “amarrotada” pelo travesseiro? Com os cabelos bagunçados? Com mau hálito?

Essa situação que nos foi proposta para refletirmos é sobre o nosso físico. É uma situação onde podemos olha e dizer: “Eu estou assim e não tenho como negar”. Ou seja, se eu olho o meu físico, posso ver que não estou bem ao acordar, por isso tomo um banho, escovo meus dentes, coloco uma roupa, passo um perfume e estou pronto. Agora sim posso dizer que tomei posse da minha beleza física, a beleza exterior.

Agora vamos propor outra situação; dessa vez mais do que uma reflexão, será um desafio onde teremos que nos voltar para dentro de nós mesmos e nos questionar: Como eu estou como pessoa? Será que estou sendo realmente a pessoa que eu sou ou estou sendo a pessoa que cada um quer que eu seja?

O termo pessoa foi muito utilizado ao longo da história da humanidade, sobretudo dentro do contexto grego como as máscaras da comédia e da tragédia que os atores usavam para interpretar no teatro.

Com a evolução do pensamento teológico e filosófico, o conceito de pessoa como apenas máscara foi sendo extinto, mostrando que o ser pessoa é muito mais do que uma simples máscara.

Quando faço pregações sobre este tema, gosto muito de utilizar a passagem do Evangelho de São João, capítulo 8 onde uma prostituta é levada até Jesus para que Ele possa julgá-la, quando, na verdade, os judeus querem ouvir o que Jesus irá falar para poderem acusá-lo de romper as leis.

Refletindo esse Evangelho, é impressionante como Jesus faz a prostituta tomar posse daquilo que ela realmente era. Jesus não imagina aquela mulher, Ele não a vê sob a óptica dos homens que a viam como “a prostituta”, mas a vê pela óptica do amor, da compaixão: volta naquela mulher a primeira condição existente: ser filha de Deus e amada. Jesus não deixa que ela caia na imaginação dos outros. A prostituta toma posse daquilo que ela realmente é, mas que havia perdido por ter deixado os outros a imaginarem e ter se submetido a tal imaginação.

Ser pessoa é isso: tomar posse daquilo que eu sou mesmo sob as minhas limitações, mas não posso deixar os outros me imaginarem e muito menos me imaginar.

A graça de Deus não é uma realidade que está à cima de mim, mas é um movimento que me faz refletir quem eu sou; é um espelho que Deus coloca na minha frente para que eu me veja e para que eu descubra quem eu sou.

Voltando ao Evangelho, ali havia uma realidade: uma prostituta pega em adultério pronta para ser apedrejada, mas Jesus, em seu amor faz com que aquela mulher volte a se conhecer, volte a perceber que ela era um ser humano, uma filha especial para Deus; eu não tenho o direito de me projetar nessa imaginação que a vida fez de mim: me tornei prostituta, mas eu não sou prostituta e não nasci para ser prostituta.

Porque temos a dificuldade de dispormos de quem a gente é?

Nós somos feitos de momento, de brilhos temporários, ficamos atrás de coisas que pensamos que vão ser eternas. Tendemos a querer tudo na hora, não paramos para refletir e acabamos indo “na onda” de qualquer artifício que nos é apresentado, vamos atrás de brilhos temporários, e quando percebemos que essa alegria é temporária, que esse brilho se apagou nos decepcionamos e vamos cavando dentro de nós uma ausência de disposição de si: com isso vamos colocando nossa vida na mão do outro que vai decidindo por nós e com isso vamos nos perdendo. Ou pior, vamos criando em nossa vida personagens, para “fulano” vou ser assim e para “beltrano” serei assim.

Não fique criando personagens dentro de você, não fique se tornando outra pessoa, pois quando você morrer corre o risco de chegar lá em cima e Deus olhar para você e perguntar: “Te conheço? Te criei um e agora vem outro?”


Eu sei quem eu sou e não tenho o direito de me transformar na imaginação do outro, porque pode ser que o outro esteja me imaginando totalmente diferente do que Deus me fez. E entre o que Deus me fez e o que os outro imaginam que eu sou, eu prefiro ser aquilo que Deus me fez.

Após esta reflexão, convido você a ouvir a música "Imagem e Semelhança" e juntos rezarmos ao Senhor, que nos ajude a tomarmos posse daquilo que Ele tem para nós. Tomarmos posse de nossa Vocação, de nossa vida de filhos e filhas amados.

A todos meu abraço e minhas orações.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário!
Por favor, identifique-se!