por Matheus Henrique
Vamos supor
a seguinte situação: você acorda pela manhã e se olha no espelho. Qual a sua
primeira sensação? Como você está? Com a face “amarrotada” pelo travesseiro?
Com os cabelos bagunçados? Com mau hálito?
Essa situação que nos foi
proposta para refletirmos é sobre o nosso físico. É uma situação onde podemos
olha e dizer: “Eu estou assim e não tenho como negar”. Ou seja, se eu olho o
meu físico, posso ver que não estou bem ao acordar, por isso tomo um banho,
escovo meus dentes, coloco uma roupa, passo um perfume e estou pronto. Agora
sim posso dizer que tomei posse da minha beleza física, a beleza exterior.
Agora vamos propor outra
situação; dessa vez mais do que uma reflexão, será um desafio onde teremos que
nos voltar para dentro de nós mesmos e nos questionar: Como eu estou como
pessoa? Será que estou sendo realmente a pessoa que eu sou ou estou sendo a
pessoa que cada um quer que eu seja?
O termo pessoa foi muito
utilizado ao longo da história da humanidade, sobretudo dentro do contexto
grego como as máscaras da comédia e da tragédia que os atores usavam para
interpretar no teatro.
Com a evolução do pensamento
teológico e filosófico, o conceito de pessoa como apenas máscara foi sendo
extinto, mostrando que o ser pessoa é muito mais do que uma simples máscara.
Quando faço pregações sobre este
tema, gosto muito de utilizar a passagem do Evangelho de São João, capítulo 8
onde uma prostituta é levada até Jesus para que Ele possa julgá-la, quando, na
verdade, os judeus querem ouvir o que Jesus irá falar para poderem acusá-lo de
romper as leis.
Refletindo esse Evangelho, é
impressionante como Jesus faz a prostituta tomar posse daquilo que ela
realmente era. Jesus não imagina aquela mulher, Ele não a vê sob a óptica dos
homens que a viam como “a prostituta”, mas a vê pela óptica do amor, da
compaixão: volta naquela mulher a primeira condição existente: ser filha de
Deus e amada. Jesus não deixa que ela caia na imaginação dos outros. A
prostituta toma posse daquilo que ela realmente é, mas que havia perdido por
ter deixado os outros a imaginarem e ter se submetido a tal imaginação.
Ser pessoa é isso: tomar posse
daquilo que eu sou mesmo sob as minhas limitações, mas não posso deixar os
outros me imaginarem e muito menos me imaginar.
A graça de Deus não é uma
realidade que está à cima de mim, mas é um movimento que me faz refletir quem
eu sou; é um espelho que Deus coloca na minha frente para que eu me veja e para
que eu descubra quem eu sou.
Voltando ao Evangelho, ali havia
uma realidade: uma prostituta pega em adultério pronta para ser apedrejada, mas
Jesus, em seu amor faz com que aquela mulher volte a se conhecer, volte a
perceber que ela era um ser humano, uma filha especial para Deus; eu não tenho
o direito de me projetar nessa imaginação que a vida fez de mim: me tornei
prostituta, mas eu não sou prostituta e não nasci para ser prostituta.
Porque temos a dificuldade de
dispormos de quem a gente é?
Nós somos feitos de momento, de
brilhos temporários, ficamos atrás de coisas que pensamos que vão ser eternas.
Tendemos a querer tudo na hora, não paramos para refletir e acabamos indo “na
onda” de qualquer artifício que nos é apresentado, vamos atrás de brilhos
temporários, e quando percebemos que essa alegria é temporária, que esse brilho
se apagou nos decepcionamos e vamos cavando dentro de nós uma ausência de
disposição de si: com isso vamos colocando nossa vida na mão do outro que vai
decidindo por nós e com isso vamos nos perdendo. Ou pior, vamos criando em
nossa vida personagens, para “fulano” vou ser assim e para “beltrano” serei
assim.
Não fique criando personagens
dentro de você, não fique se tornando outra pessoa, pois quando você morrer
corre o risco de chegar lá em cima e Deus olhar para você e perguntar: “Te
conheço? Te criei um e agora vem outro?”
Eu sei quem eu sou e não tenho o
direito de me transformar na imaginação do outro, porque pode ser que o outro
esteja me imaginando totalmente diferente do que Deus me fez. E entre o que
Deus me fez e o que os outro imaginam que eu sou, eu prefiro ser aquilo que
Deus me fez.
Após esta reflexão, convido você a ouvir a música "Imagem e Semelhança" e juntos rezarmos ao Senhor, que nos ajude a tomarmos posse daquilo que Ele tem para nós. Tomarmos posse de nossa Vocação, de nossa vida de filhos e filhas amados.
A todos meu abraço e minhas orações.
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